
Freguesia de Belinho
Orago: S.Pedro Fins
A cerca de 7 Km da Vila de Esposende, para Norte, situa-se a freguesia de
Belinho. Confina a Norte com S. Paio de Antas, a Nascente com Vila Chã, a Sul
com S. Bartolomeu do Mar e a Poente com o Oceano Atlântico.
O seu nome — Belinho — procede do genitivo Belini que, segundo alguns autores,
terá origem no nome próprio Belinus de origem romana. O orago é S. Pedro Fins
tendo sido, outrora, S. Félix. No campo geográfico distinguem-se duas zonas, bem
diferentes. Uma, junto à encosta da arriba sobranceira ao mar, constituída por
leiras de mato e alguns campos de cultivo assim como o principal núcleo urbano
da freguesia e, a outra, tendo como linha divisória a estrada nacional 13, a
poente, constituída pelas verdejantes «hortas» que, parafraseando Manuel de
Boaventura, são «faladas em todos os mercados e feiras minhotas». Como lugares
principais salientamos Belinho, Igreja, Barros, Feital, Infesta, Caniço, Outeiro
e Santo Amaro. Estende-se por uma área de 737 ha.
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Esta localidade apresenta, no tocante à arqueologia, vestígios de civilizações
remotas. Rumando até à Pré-História encontramos uma importante jazida de onde
foram recolhidos inúmeros instrumentos líticos atribuíveis ao asturiense.
Do período pré-romano e romano são de registar o castro de Sanfins (Cova da
Bouça) que apresenta ainda vestígios de construções circulares bem como de
muralhas de defesa.
Em 1135, D. Afonso Henriques faz Arcebispo de Braga D. Paio Mendes e entrega-lhe
a igreja de S. Félix de Belinho. Mais tarde, em 1220, D. Afonso II faz
inquirição a Belinho que, nessa época, se denominava «De Sancto Felice de Belino»
e se afirmava «quod habet ibi dominus Rex XXXII casalia et medium, et dant omnes,
sive habeant sive non, CCXXV modios de tritico ataleigados».
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Com D. Afonso III e nas Inquirições de 1258, 1ª Alçada, diz-se que «el-rey ha
XXXVII casaes… et todos desta vila sunt servizaes dei Rey e Mayordomo per si
mesmos», neste documento chamava-se «Sancti Fiiz de Belino».
Em 1320, pertencendo ao arcediago de Neiva, chama-se «ecclesia Sancti Felicis de
Belin» e, em 1400 «San Fiiz de Belinho». No século XVI, em 1528, e já anexada ao
Cabido de Braga, aparece com a designação de S. Finz de Velinho passando a ter,
em 1749, a designação actual, isto é, S. Pedro Fins de Belinho.
Aquando a outorga da carta régia que elevou à categoria de vila, em 1572,
Belinho não pertencia ao termo de Esposende indo este somente até S. Bartolomeu
do Mar.
Em 1758, nas memórias paroquiais, diz-se que «esta freguezia he da Provincia de
entre-douro-e-minho, comarca do Arcebispado Primaz de Braga, termo da vilia de
Barceilos aonde pertence».
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A Igreja paroquial é imponente e está cercada por uma balaustrada em granito
possuindo, à entrada do seu adro, um belo cruzeiro.
O templo possui uma fachada bastante alta salientando-se uma emoldurada janela
encimada por um nicho que sustenta a imagem, esculpida em granito, de S. Pedro.
Na sua frontaria está gravada uma data, codificada, que corresponde a 13 de
Agosto de 1897. Esta construção datada daquela época, substituiu uma outra
situada a Nascente, no sopé do monte.
O cruzeiro, atrás referido, tem a data de 1677.
Como datas históricas ligadas ao culto nesta freguesia, salientamos a visita do
Arcebispo D. Frei Caetano Brandão, em 1792, e já antes, em 1716, foi instituída,
na Igreja Paroquial, a Ordem Terceira de S. Francisco.
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Quando visitou esta freguesia, D. Frei Caetano Brandão, ficou impressionado com
a religiosidade dos seus moradores escrevendo «o Povo deste lugar e dos
circunvisinhos mui docil, devoto, frequente na igreja, e ouvindo as instruções
eclesiásticas com hum edificantismo».
Como capelas mais importantes temos a Capela da Senhora da Guia, no cimo do
monte da Guia, do qual se pode observar um lindíssimo panorama sobre o mar.
A esta capela anda ligado um velho culto relacionado com as pedras que a
circundam e que se refere, aliás como em muitas outras regiões, e por outros
motivos, ao poder mágico-divino das pedras procedendo desta ou daquela maneira
para obter este ou aquele favor.
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Existem localidades onde a pedra do adro tem dons sobre a fertilidade das
mulheres estéreis, que sobre esta deviam escorregar (esta prática foi proibida
no século XVII nas constituições sinodais de Braga) mas, em Belinho, a paga de
alguma promessa era feita, ora pintando de branco um dos penedos ao redor da
capela, ora, se a promessa fosse grande, pintando todos os penedos existentes.
Hoje em dia são os próprios festeiros a «enfeitar» o local caiando de branco,
embora o façam inconscientemente estamos certos, como reminiscência do velho
culto das pedras.
Também nas imediações desta capela existe uma gruta que, segundo a tradição,
albergou durante muito tempo um monge, conhecido pelo nome de Joia, que durante
o tempo bom aí se recolhia passando a chamar-se, pelas gentes desta zona, o
Monge da Guia.
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Uma outra capela, completamente arruinada, situa-se no lugar da Boavista e era
da devoção de S. João.
Pela sua localização e arquitectura dá-nos a impressão tratar-se de um local
contemplativo sem porta de entrada e com bancos de pedra para quem quisesse ao
mesmo tempo que rezava contemplar o mar. Está anexa a uma casa senhorial, também
muito arruinada. Possui uma abóbada em granito e a porta é constituída por um
grande arco não se notando sinais de portadas.
No seu interior existem bancos de pedra, dispostos lateralmente, e, como altar,
um nicho onde estaria a imagem do patrono. A servir de base a este nicho está
uma «carranca» que vertia água para uma pia em forma de concha. A data desta
capela poderá deduzir-se de uma inscrição aí existente que diz o seguinte: Ano
de MDCCXXXV MIGUEL ARANHA PITA INCT. Refira-se que no exterior desta capela
existe um sarcófago em granito, sem tampa.
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Manuel de Boaventura recolheu, nesta localidade, uma lenda interessante que se
relaciona com Santo Amaro e com o caçador de Belinho.
Diz a lenda que este caçador, outrora noviço no convento de S. Romão do Neiva,
teria partido as pernas, algures no monte sobranceiro a Belinho.
Gritava mas ninguém o ouvia até que, desfalecido, adormeceu.
Durante a sua sonolência alguém lhe tocou — diz a lenda ter sido a asa de uma
andorinha — acordando-o.
Subitamente depara com uma figura trajando as vestes da Ordem de S. Bento que
lhe diz para se levantar. Conseguiu-o fazer o que considerou milagre.
Para agradecer esta prece dirigiu-se ao convento, onde então tinha sido noviço,
e ajoelhou junto de Santo Amaro.
Curioso, pensava ele, a figura que no monte o curou tinha as mesmas feições
daquela do altar.
Correndo até Belinho contratou um mestre canteiro para erguer uma capelinha no
local do desastre e, tempos depois, o próprio abade do Convento de S. Romão do
Neiva a benzia e oferecia a imagem de Santo Amaro que então existia no seu
convento e aos pés da qual o caçador ajoelhou.
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